Queria ter assunto para muitas páginas
Mas meu caderno ainda está vazio
Ele está cheio, cheio, cheio, cheio,
É que o vazio vem da voz que me diz: "não vale a pena"
Minha labuta é martelar o oposto em meu cérebro
Filha-da-puta, vai lograr a mente de outro funébrio
"Vale a pena", "vale a pena", "vale a pena", "vale a pena"
Repito... mas a porra é que não acredito
Há de ser naturalmente, quando menos se espera
Aí que está a merda
Quanto tempo este cocô vai me rodear
Eu piso, amasseto, inalo, engulo, vomito e lá está ele
o cocozão fedido de minhas vergonhas inconscientes
Ai, mas é que sou só um humano
Rá, pior ainda, aí que mora o perigo
para os seres humanos é inevitável se tornar um homem
cheios de suas inevitáveis coisas de homens
se um cão eu fosse um dia
menino eu sempre seria
Oras, mas que blasfêmia
contradizendo seu próprio veículo
aniquilando-se como se tivesse o direito
de achar que sou um miserável
e de estancar o sangue que está aqui
Fervendo de raiva misturada com amor
O ódio dentro de minha ternura
sou eu dentro de minha própria tortura
sou o alívio dentro desta dor
É, talvez eu tenha muito assunto
e o que me falte sejam os acentos
a hora certa de ser firme ou terno
bruto ou meigo, idiota ou sagaz
Mas tanto faz
o tempo vai passar
o que tiver de ser, será
e quando eu souber quem sou, serei
vou deixar ele tentar me dizer
vou aceitar
quando chegar a hora de responder
aí sim, poderei cantar
como quem se encanta por tudo
e finalmente deixa a pedra rolar
and get born again...